" A verdadeira afeição na longa ausência se prova"

Luís de Camões

domingo, 16 de outubro de 2011

Meu conto vão

Amigos leitores,
aceitei o desafio do meu amigo Uili e escrevi um conto para o blog dele http://contosdeamoresvaos.blogspot.com/
alguém mais se habilita???
confiram o blog, leiam o livro ' Contos de amores vãos' se inspirem e escrevam, enviem pare ele e ele publicará, FICAADICA!


Do pré-conceito a um quase amor


Eu não era mais nenhuma garotinha e meu coração andava dando-me alguns sustos, herança de família. Mas desta vez acompanhado do susto veio uma surpresa.

Ele sempre estava no hospital, estagiário aplicado, nos conhecemos quando ele fez minha ficha, eu estava muito nervosa, com medo. Nem sei como cheguei até o plantão naquela madrugada, meu coração parecia que queria deixar meu corpo. E o garoto sabendo das burocracias e das dificuldades que eu ainda iria enfrentar naquela fila do SUS, me distraiu com uma conversa casual. Verificou minha pressão e ao voltar ao normal começou a brincar com meu sobrenome, Sasso. Italiana forte como teu sobrenome já diz, vai ficar boa logo. Digo isso por que conheço bem a raça, sou Menin. Seu nome eu nem perguntei, mas o sobrenome era difícil esquecer. Víamos-nos sempre quando eu precisava voltar ao hospital até que eu recebi alta.

Um dia voltei ao hospital, não tinha nenhuma doença, era só pra ver aquele anjo novamente, mas ele não se encontrava mais lá. Quase entrei em desespero, era muito bom conversar com ele e sentir o calor daquele olhar.

Mas graças aos céus, ou melhor, a algum iluminado que inventou a tecnologia, hoje é tão comum termos computador e internet, trocamos e-mails e tudo se desenrolou. Resistimos o quanto pudemos. Era meio irreal. Mas não teve jeito, a paixão era mais forte, nos entregamos.

Marcamos um café, fiquei muito nervosa, pensei que ele ia desistir. Mas ele veio. Aquele sorriso brincalhão de menino. O coração disparava, as mãos tremiam e os nossos olhares quase nos despiram. Parecíamos adolescentes, faz algum tempo, mas ainda lembro-me da deliciosa sensação adolescente, um misto de medo e coragem, sensação de que conquistaríamos o mundo, nada seria impossível para nós.

Resolvemos sair, ir à um parque que havia ali perto do café onde estávamos. O parque estava quase vazio, era muito belo, devia encher nos finais de semana. Em um canto do parque vimos uma simpática capelinha com a imagem de um santo e uma pequena fonte ao lado.

Sem mais nos rendemos ao primeiro beijo. Apaixonado, foi o beijo que selou aquele amor. Envolvia-me em seus braços de um jeito que me fazia não querer outra coisa nessa vida. Em seus braços descobri o que é amar e amando é como se eu tivesse nascido de novo e não é justamente ao nascer que começamos a morrer?

Não conseguimos namorar de verdade. Nossas famílias não aceitariam. A sociedade não veria com bons olhos um casal tão diferente. Mas vivemos intensamente nosso amor durante meses às escondidas. Ele continuava com a vida dele e eu com a minha, nosso caso era como uma segunda vida. Fingíamos que poderia ser assim. Um universo maravilhoso era quando estávamos juntos, mas, havia outro universo onde um não podia ser do outro.

Então chegou o dia que o destino fez o que não tínhamos força para fazer.

Uma tragédia no Haiti mobilizou muitas pessoas e o meu Menin se foi, faltava pouco para se formar em medicina, mas já era um excelente profissional e muitas vidas precisavam dele. Certificou-se primeiro que um bom médico cuidaria do meu coração enquanto ele estivesse longe, nos encontramos pela última vez no parque e ele partiu.

Tinha certeza que não ficaria muito tempo fora. Acompanhava o noticiário todos os dias, até que reportaram um acidente. Muitas pessoas morreram inclusive alguns dos que prestavam socorro. Foi um baque. Meu coração não suportou. Fui levada às pressas para o plantão. Eu sobrevivi, mas nunca mais tive notícias do meu Menin.

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