" A verdadeira afeição na longa ausência se prova"

Luís de Camões

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A corrida dos lemingues para a morte

Os lemingues são pequenos roedores que vivem no extremo norte da Europa. Periodicamente se reúnem, a cada quatro anos, para uma corrida gigantesca. De todos os vales e montanhas afluem correntes de lemingues que se unem uns aos outros, acionados por uma força misteriosa, tomando rumo retilíneo para o mar. Não se deixam amedrontar por obstáculos, não conhecem desvios, seguindo sempre em frente, como que atraídos por um enorme imã. Não olham à direita nem á esquerda e correm, correm, correm. Centenas, milhares, milhões de seres sendo os primeiros pressionados pelos seguintes até chegarem aos penhascos litorâneos donde se lançam ao mar: dezenas, centenas, milhares, milhões.
Por quê? Ninguém sabe. Dizem que não é verdade que procuram a morte. Mas uma vez correndo, uns pressionam os outros e não existe mais escapatória. Conheço pessoas que assistiram pasmas a essa corrida à qual somente alguns sobrevivem, os que chegaram atrasados.
Multiplicam-se muito, criando numerosas gerações, para passados novamente quatro anos, colocarem-se outra vez em marcha para a longa e louca caminhada coletiva para a morte.
A humanidade, apesar de não ser feita de pequenos roedores, mas de grandes seres racionais, encontra-se também, do mesmo modo, numa corrida de morte coletiva. Sabe-se que a destruição do meio ambiente é o fim da humanidade. Não porque nossa vida dependesse da existência de alguns olmos ou elefantes, mas porque a ecosfera fornece os mesmos produtos para nossa vida e para a produção industrial. Porque a tecnosfera, a biosfera e a ecosfera se entrelaçam dependendo uma da outra. Porque nossa vida termina com o esgotamento da ecosfera pela tecnosfera, e porque a tecnosfera termina com a ecosfera, também terminando toda economia junto. Um antigo provérbio dizia: “desconhecimento não te protege contra a lei”. Desconhecendo as inter- relações íntimas da natureza e de toda nossa atividade, seja ela agrícola ou industrial, não remove as conseqüências que dela advirem.  Ou por acaso não existia a energia atômica na época de Napoleão, somente porque não a conheciam? Ou não existia nessa época a energia elétrica somente porque não sabiam armazená-la e conduzi-la?
Mas os povos se revoltam instintivamente. Não desejam morrer. Eles querem viver, continuar a viver, sobreviver. Especialmente a juventude dos países tecnicamente, “subdesenvolvidos” se revolta. Uns ficam até dependentes de vídeo games e computadores, mas há outros que procuram sua alma, seu ser, sua personalidade.

Agroecologia Ecosfera,Tecnosfera e Agricultura.
De Ana Primavesi

2 comentários:

  1. Belo texto, pode inclusive ser aplicado para as relações pessoais você não acha? Muitos correm atrás daquilo que nem sabem o que é ou até sabem mas desconhecem outras formas de "chegar lá" e simplismente se atiram para aquilo que é morte certa :) Bjus da Le ahhh os atrasados sobrevivem hein

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  2. Sim o texto é ótimo, aliás, o livro é ótimo.
    E e bem verdade, muitas pessoas bucam o próprio fim.
    Obrigada por companhar meu blog.
    Bjus

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