Depois de muitos anos, duas mães se reencontram num colégio, no dia de votação de uma eleição qualquer.
- Maria Helena? Você não é a mãe do Paulo Henrique, o amigo do Arturzinho, meu filho, nos tempos aqui do colégio?
- Claro! Sou a mãe do Paulo Henrique, sim. Quanto tempo, Célia! E como vai o Arturzinho?
- Arturzinho tá ótimo. Tá nos Estados Unidos. Acabou a faculdade de Economia na USP e está fazendo uma pós-graduação em Nova York. Tá todo empolgado! A família também. E o Paulo Henrique?
- Paulo é aquela coisa: nunca gostou de estudar. Quis porque quis fazer jornalismo. O pai não queria. Agora tá aí, desempregado. Diz que manda currículo todo dia, pra tudo que é lugar, mas a situação tá difícil.
- Mas isso é fase, Maria Helena.
- Deus te ouça, Célia. O Paulo Henrique passa o dia inteiro tocando guitarra no quarto. Diz que vai ser músico também. O pai não tá gostando nada. Eu queria tanto que ele fosse igual ao Arturzinho.
- Bem, Maria Helena, deixa eu ir. Sucesso pro Paulo Henrique.
Dois anos depois, numa outra eleição, novo reencontro.
- Oi, tudo bem? E o Paulo Henrique? Ainda sem emprego?
- Oi, Célia, tudo bem. O Paulo arrumou umas coisas, sim, mas tudo bico. Pelo menos tá pagando as contas dele.
- Que bom, já é alguma coisa, né?
- Ele diz que também está fazendo um blog. Acho que é esse o nome: blog. Não ganha nada. Diz que vai ganhar, mas até agora nada. Diz que é um blog sobre transparência política. Não entendo direito. Ah, esse moleque. E o Artur?
- Arturzinho tá ótimo. Já tá voltando pro Brasil. Mês que vem. Com a pós que ele fez lá nos Estados Unidos, já garantiu um superemprego aqui, num banco grande. Tão jovem e já vai ter um cargo importante, sabe? Salário excelente.
- Que bom. O Arturzinho sempre foi muito estudioso. Eu falava pro Paulo: segue o exemplo do seu amigo. Mas fazer o quê? Quis porque quis fazer essa bobagem de jornalismo...
Pelas mais diversas circunstâncias, o encontro seguinte só ocorreu depois de oito anos.
- Maria Helena, tudo bem? Lembrei de você esses dias!
- Sério?
- Me fala uma coisa: o Paulo Henrique Dias, o jornalista que denunciou o esquema de corrupção lá no Senado, é o seu filho?
- É o meu filho, sim.
- Jura?
- Paulinho tá trabalhando em Brasília há uns cinco anos ou mais. Gostou mesmo dessa coisa de política, investigação, transparência. Lembra que eu falei do blog? Arrumou até emprego por causa do blog.
- Lembro do blog, sim. Que coisa, né?
- Não ganha o salário do Arturzinho, mas tá muito feliz.
- Então, deixa eu te contar. O Artur não está mais no banco. Fez uma besteira lá num investimento alto, o banco perdeu muito dinheiro e mandou ele embora. O pai ficou uma fera. Vai estudar nos Estados Unidos pra fazer uma besteira dessas?
- Sério? Coitado...
- E quando é pra dar errado dá tudo junto. Ele tinha casado, mas depois da confusão com o banco até a mulher abandonou o Artur. Tá em depressão. Não vai nem mais às aulas de esgrima.
- O pai do Paulinho tá todo orgulhoso do filho. Eu também, sabe? Tenho uma pasta aqui com os recortes das matérias dele. Quer ver? Só matéria de capa.
- Nossa, que coisa, né?
- E não é que o Paulinho se encontrou mesmo no jornalismo?
(Duda Rangel)
Nenhum comentário:
Postar um comentário